domingo, 24 de agosto de 2008

Um outro texto especial ...

Hoje, a poucos momentos, uma aluna do curso de direção teatral escreveu um texto, que nos foi enviado e que resolvemos publicar no blog. Irei transcrever o email na íntegra.


Olá, sou Vida Oliveira, aluna do curso de Direção Teatral da Escola de Teatro da UFBA e escrevi algo sobre o assuno que penso talvez ser interessante de ser colocado no Blog. Escrevi-o, ao ler o texto de Olga Lamas, por e-mail.
Segue, abaixo, o texto.

"Há algumas coisas que acho importante considerar neste caso: A primeira é que não importa o fato, e sim a possibilidade de ele acontecer. Afinal, estava esta moça andando pela universidade e, ao que eu saiba, num ambiente universitário, não deveria haver, de forma alguma, qualquer risco. E ponto. Não há o que se dizer a mais por Naomar ou Mesquita de modo a justificar o fato. Apenas devem assumir que não cuidaram da segurança da instituição. Com ato consumado ou sem ato consumado, uma aluna foi colocada em risco e adquiriu traumas que levará para o resto da vida – me desculpem os detentores do poder desta universidade por ser tão profunda - mas isso, vocês sabem, nada apagará. Pro resto da vida, reitero.

Ou seja: Ainda que se mudem as coisas, a partir de agora, ainda temos um grande problema: Esta garota tem um trauma, precisa de ajuda e, inclusive, no mínimo, um pedido pessoal de desculpas, especialmente do Reitor e Vice-reitor, por falta de competência em assegurá-la. Não sei se isso já foi feito, mas deixo aqui o meu pensamento de que é algo imprescindível.

Ontem eu estava na aula de Inglês – faço também o curso de extensão da UFBA – e ouvi minha professora contar que a garota em questão havia contado que o homem tinha cadernos. O que quer dizer que o autor do ato ignóbil poderia ser um aluno da Universidade. Ora, nós sabemos que este ato de instinto animal pode estar, de fato, em qualquer lugar. Sabemos que, se houvesse segurança na faculdade, em caso de estarmos falando de um aluno, ele não teria a chance de fazê-lo lá, mas ainda o faria, em outro lugar, em outro momento. Nesse caso, me pergunto: O que se fazer para evitar que pessoas com problemas psicológicos tão intensos sejam matriculados? Há de se lembrar, por exemplo, que não seria tão impossível que fosse um aluno, afinal, quem foi o homem que matou, alguns meses atrás, a namorada a tesouradas? Era também aluno da UFBA. Houve o caso do aluno de direito que matou a namorada e jogou no mar, algo assim. Eu sei que esses casos fogem ao controle de quem estiver no poder, mas imagino que alguém mais inteligente que eu possa ter alguma idéia de como impedi-los. Porque é um caso grave, imprevisível. Você não espera que alguém que tem acesso a educação e à cultura vá fazer isso. E, com tudo isso rodeando os meus pensamentos, me preocupei bastante ao ouvir que poderia ser um aluno, porque seria o terceiro caso este ano e, eu - com discursos tão completos que tenho, muitas vezes - nesse caso, não saberia nem o que dizer, tampouco saberia do que reclamar.

Não escrevi este – depoimento, eu diria – com o simples intuito de sugerir soluções práticas e óbvias, mas porque, desde ontem, me paro pensando nesses dois pontos importantes sobre o caso e, no entanto, não vejo simplicidade no problema, ao contrário, me parece cada vez mais complexo.

Mas, de fato, não quero diminuir a culpa de quem é culpado, ao falar da possibilidade de ser aluno, apenas queria colocar também este ponto. Acho que deixo claro aqui, que, como aluna da UFBA, como alguém que acredita na educação e na educação pública, estou cá, indignada.

Me faço falar, para aproveitar a oportunidade, também, que quando se fala que se deve pensar em segurança, acredito que seja pensar em segurança como pessoas que têm educação e não em animais instintivos, ou seja, pensar em segurança não é destruir o pouco que ainda se em de mata atlântica.

Devemos, acredito, nesse momento, pensar juntos em soluções – acho que é isso que vim dizer – pensar juntos. Achar soluções boas e lutar para que sejam colocadas em prática, sempre pensando no bem de todos, sem pensamentos políticos à frente disto. Apenas o bem maior.

E tenho dito.

Vida Oliveira – Aluna da Escola de Teatro da UFBA.


Acredito que posso agradecer por todos a sua preocupação por criar material para a postagem no blog
Comissão de Imprensa emergencial

3 comentários:

Lino disse...

"Eu sei que esses casos fogem ao controle de quem estiver no poder, mas imagino que alguém mais inteligente que eu possa ter alguma idéia de como impedi-los. Porque é um caso grave, imprevisível."

O problema é justamente esse: são imprevisíveis. Falo como aluno de Psicologia da UFBA que os sinais que as pessoas dão de terem esse tipo de problemas podem ser tão absurdamente fracos e imperceptíveis que simplesmente não há o que se fazer para impedi-los de acontecerem. Salvo, é claro, que haja segurança.

Belo texto =D

Júlia disse...

cara Vida,

Achei seu texto lindo, só discordo em um ponto. Estupro não é um ato de "instinto animal": é um ato de afirmação de poder, de dominação, de tornar o outro submisso, subordinado a si.
não acho que seja um ato de desejo, mas um ato de demonstração de poder.

Priscila de Athaides Ribeiro disse...

Adorei o texto. Tb ouvi um boato de q poderia ser algum etudante da UFBA e realmente é uma coisa imprevisível, mas que de fato, caso houvesse segurança, seria um crime evitado.
Claro q o problema eh maior, isso poderia ser evitado dentro dos campi da UFBA caso houvesse mais segurança, mas naum fora. Vivemos em uma socidade q cultua mto a blz (e eu sei q isso saum outros 500), mas vivemos uma era bastante sexual, por isso ainda há em pleno século 21 a violência sexual!
Esse foi/eh um crime hediondo e acho importante q a UFBA discuta o problema da violência como algo geral, como foi colocado em pauta hj no consuni, mas sem esquecer o q aconteceu dentro da faculdade por negligência sim das autoridades e espero q alguma medida seja tomada em breve. Eu como mulher e como estudante da UFBA estou apavorada, ir para a faculdade tem sido qse um pesadelo pra mim por medo de q algo semelhante aconteça (e pode acontecer se cruzarmos os braços...).