segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Carta aberta da associação de moradores de alto das pombas

Hoje pela tarde, chegou até nós uma carta de um representante da comunidade de alto das pombas, que expressa a posição da comunidade em relação a algumas propostas de segurança e quanto à universidade


Carta Aberta a Comunidade Acadêmica da Universidade Federal da Bahia


Nos últimos dias toda comunidade acadêmica da UFBA vem intensamente discutindo as questões de segurança no Campus Universitário, tendo como foco o São Lázaro e o PAF de Ondina. Entendemos que é salutar tal discussão, mas que a mesma não está dissociada da realidade enfrentada por toda a cidade de Salvador.

Também nos últimos meses vários jovens dizimados em nossa cidade, todos negros, pobres e moradores de áreas periféricas, dentre elas a própria comunidade do Alto das Pombas, vizinha a FFCH.

Em junho choramos pela morte de quatro jovens, vítimas de disputas de tráfico de drogas que foram violentamente assassinados.

Tal ação nos leva a refletir sobre qual violência estamos discutindo? Se a da omissão da Universidade que ao mesmo tempo em que tão próxima é tão distante dos problemas sociais que a circundam ou da mídia de excessos que sempre aguarda uma tragédia para discutir algum problema que de certa é relevante para sua classe social, ou para angariar mais fundos para manutenção desse modelo de reprodução de injustiças sociais?

Sempre convivemos harmonicamente com a universidade, principalmente pelo fato da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas se confundirem com nosso espaço
geográfico.

Mantivemos ao longo de vários anos a nossa autonomia, mas sempre com visão crítica sobre o papel social da mesma e principalmente questionando o formato laboratório que a mesma sempre adotou nos processos de diálogo com a comunidade.

Pensando assim pedimos que ao discutir o problema da violência na UFBA, não seja somente considerado o prisma de quem supostamente ela atinge de imediato, mas compreenda que cobrir de muros, gradearem as unidades educativas e principalmente colocar pessoas despreparadas para fazer a suposta segurança de nada adiantará para alcançar tal finalidade.

Conclamamos pelo bom senso de compreender que tal problema ultrapassa os espaços da UFBA e que se faz necessária uma discussão mais apurada com as Comunidades entorno dos Campi.

Esperamos que os professores, funcionários e estudantes que são protagonistas desta discussão, possam entender que tal problema social não se resolverá numa redoma, tão pouco num grupo seleto de pessoas que se reúnem para a busca de soluções de
momentos-crise, mas tomando medidas que ultrapassem as formas tradicionais,
ampliando a relação da UFBA com a comunidade, não limitando-se a ações pontuais
no semestre, a pesquisa-laboratório com a comunidade ou a antiga compreensão de
que não sabemos o que realmente queremos e que não somos capazes de construir
como parceiros, um novo modelo de UFBA, que seja verdadeiramente inclusiva, de
qualidade e pública para todos.
Salvador, 25 de agosto de 2008
Comunidade do Alto das Pombas

Um comentário:

Júlia disse...

Disse TUDO.

Essa carta foi lida na Assembléia de Estudantes de Psicologia.

Concordo em gênero, número e grau.