quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Violência, universidade e sociedade

Segue abaixo mais um texto elaborado por um leitor do blog

Olá a todos os companheiros: estudantes, artistas, autônomos e trabalhadores. Sabendo do ato violento ocorrido na UFBA na terça-feira e suas repercussões, manifestos com faixas de protesto e o texto do C.A. de Teatro denunciando o ocorrido, abordando a violência contra a mulher e sugerindo medidas de segurança a serem adotadas na UFBA, refleti muito sobre a nossa cidade, nossa indiferença cotidiana com relação às pessoas ao nosso redor, nossa apatia e omissão em relação as nossas ruas, bairros e a gestão da nossa cidade. Pensei também sobre a atual postura "realista" da maior parte de nossa sociedade que aceita resignada e conivente a concentração dos recursos naturais e do poder, a destruição do meio ambiente e a extinção de povos e culturas.

A violência crescente que temos vivenciado nos centros urbanos parece resultar de um processo lento e eficaz de brutalização dos seres humanos, que suspeito ter forte relação com a grande diferença social entre os homens, atualmente mantida pela estrutura do trabalho capitalista, que concentra poder e recursos materiais na mão de poucas famílias, subjugando e explorando grande parte da população, que tem poucas chances de viver bem e trabalhar em algo realizador. As relações de afeto e de poder no convívio familiar, na escola e no bairro são importantes na construção do caráter dos indivíduos, podendo estimular comportamentos solidários, competitivos ou violentos, estas relações são influenciadas pelos meios de comunicação e pela ética capitalista, nesse sentido atualmente assistimos a morte do conceito de vizinhança e o enfraquecimento da vida comunitária em nossos prédios, ruas e bairros.

No Brasil, durante a ditadura militar, foi iniciado um processo de degradação do sistema de educação pública, simultaneamente muitas lideranças sociais foram assassinadas, setores conservadores assumiram o controle dos meios de comunicação, a existência de grandes latifúndios foi assegurada e o domínio das grandes corporações capitalistas garantido, uma estratégia quase infalível para o embrutecimento de uma sociedade. Passada a ditadura, vivenciamos o regime "democrático”, com a chegada de partidos de esquerda ao poder, experimentamos a melhoria de alguns serviços sociais, a construção lenta de políticas participativas, redes de associações civis são formadas, porém a terra, o capital e os meios de comunicação continuam dominados por poucos e o embrutecimento social se reconfigura mais humano.

Nossa sociedade dirigida historicamente por homens recria as dominações de gênero, agora travestidas de propaganda, músicas e danças. Em Salvador, no contexto da expansão do turismo e do carnaval, a idéia de Bahia Terra da Alegria, com mulatas lindas e nada mais, é estimulada pelo setor empresarial e pela mídia que construíram a hegemonia de uma cultura de massa que usa a mulher e o sexo como mercadorias, daí músicas como: senta que é de menta; vaza canhão; abre, abre,abre... Nas ruas de Salvador são triviais assédios verbais do tipo: gostosa, te chupo toda e outros mais invasivos como: passar a mão no cabelo de uma passante, pegar na bunda alheia sem prévia autorização, estando estes atos associados à afirmação da masculinidade.

A reivindicação de mais segurança nas universidades e a apresentação de um plano de segurança são atitudes fundamentais para minimizar a violência nos campi, porém é preciso atacar as suas causas socioeconômicas, transformar as relações de poder na família e nas diversas instituições sociais. Para reduzir efetivamente a violência são necessárias mudanças profundas na nossa sociedade, construir outra forma de fazer política (representação x participação), gerir de forma participativa nossas ruas, nossa cidade, criar assembléias populares deliberativas, fortificar os Fóruns de entidades civis, estruturar o trabalho de forma autogestionária¹, cooperativar as grandes corporações, distribuir a terra. Para reduzir a violência são necessárias mudanças estruturais ou vamos apenas pedir mais policiamento, a construção de mais presídios e manter a miséria longe, reformar o capitalismo com a cara da social democracia.

A luta contra a violência e o empobrecimento cultural e biológico do nosso planeta pede da universidade uma postura mais ativa na abordagem e construção de metodologias e práticas nos campos da política participativa, democratização da mídia, economia solidária, desenvolvimento ecológico, saúde pública, preservação das comunidades tradicionais e da cultura popular.

Vemos nossa cidade piorar² e estamos cada vez mais amedrontados, mas para interferir, além de atuar individualmente, temos de participar dos espaços das decisões políticas da cidade, ir nas reuniões do Plano de Desenvolvimento Urbanístico de Salvador(PDDU); para preservar o meio ambiente temos de ir nos Fóruns de Meio Ambiente, participar de reuniões de sindicato, de associações de rua, mover processos no Ministério Publico, participar de projetos locais, ações que demandam tempo, investimento e compromisso, e da forma como o trabalho está estruturado, com 8:00h horas diárias de jornada de trabalho, o trabalhador está impossibilitado de participar efetivamente da vida política da nossa sociedade enquanto as grandes corporações contratam advogados e todo corpo técnico e político para elaborar e aprovar grandes empreendimentos, como construção de estaleiros em Salinas, expansão do turismo no litoral, da mamona na chapada diamantina, da soja no oeste, do eucalipto no extremo sul, do setor imobiliário na Bahia inteira.

Os estudantes, professores e funcionários da Universidade pública podem realizar projetos de pesquisa e extensão, ciclos de debates e intervenções sociais que procurem soluções efetivas para problemas atuais de nossa sociedade. As diferentes faculdades podem fomentar pesquisas e projetos de extensão que ajudem na construção de políticas públicas nos setores de educação, saúde, meio ambiente, cultura, trabalho. Por exemplo, as faculdades de arquitetura, biologia, geografia, sociologia, poderiam estimular monografias, teses, seminários e projetos de extensão sobre a ocupação da cidade contribuindo com a construção do nosso plano diretor. Além disso, a universidade pode abrir seus prédios e dispor seu corpo de trabalho para a população em geral através de aulas abertas, cursos para professores e funcionários públicos, oferecendo vagas a seus funcionários.

Juntamente com os movimentos sociais e entidades civis, a universidade pode propor metodologias e defender direitos que garantam o diálogo entre a sociedade e o estado como: a redução da jornada de trabalho, a conquista de dias livres para a organização da sociedade civil (reuniões, assembléias, cursos), a criação de uma secretaria de agricultura familiar, a adoção da educação contextualizada pelas escolas públicas, a utilização da medicina popular pelos órgãos de saúde, a utilização de tecnologias ecológicas para produção agrícola e energética, etc., criando assim condições para o surgimento de uma democracia real.

A universidade deveria oferecer subsídios teóricos e metodologias para fortalecer a luta pela distribuição do poder, democratização dos meios de comunicação, preservação da diversidade cultural e do meio ambiente, e desse modo reduzir efetivamente a brutalização dos homens.

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1) Aqui caracterizado como trabalho em cooperativas ou associações nas quais as decisões são tomadas participativamente e os lucros divididos de acordo com a carga horária ou número de metas alcançadas, sendo estas estipuladas coletivamente, em geral, neste modelo de gestão, os trabalhos mecânicos, intelectuais ou administrativos recebem remunerações equivalentes.

2) Houve uma redução dos espaços públicos e culturais e sua ocupação por empreendimentos privados:

- O Teatro Maria Betânia virou um Bingo e agora Churrascaria,

- O Cinema do Rio Vermelho deu lugar a uma Igreja Evangélica,

- A fábrica de papel do Rio Vermelho e o antigo clube de aviação, espaços solicitados pela população para uso sócio-cultural durante passeatas e outras manifestações foram tomados pela rede de Postos Shell e Mcdonalds e pelo Aeroclube.

- As florestas da paralela se transformaram em shoppings modernos e conjuntos habitacionais (tipo Aphaville), acessíveis apenas à elite de Salvador.

- O Santo Antônio está sendo leiloado aos empreendedores estrangeiros.

- O nosso Plano de desenvolvimento não foi construído pela sociedade e causa grandes impactos ambientais e sociais:

- O novo PDDU mudou o gabarito da orla, permitindo construção de prédios de 18 andares em quase toda orla de Salvador e não garantiu a preservação da maior parte das áreas verdes que ainda existem na cidade.

- Sem uma construção participativa, projetos de reurbanização têm sido impostos de cima p/ baixo desconfigurando nossa cidade, arrancando calçamentos históricos, como no Porto da Barra, e canalizando rios, como na Avenida Centenário.

OBS: Plebiscito não é uma construção participativa, é uma consulta popular que a sociedade conquistou depois do projeto estar finalizado e da obra iniciada.

Aion Sereno - Biólogo formado pela UFBA, Integrante do Coletivo sócio-ambientalista, organismo coordenador do projeto de Manejo Ecológico do Fundo de Pasto - IMA- BA(antigo CRA)

Um comentário:

Mírian Macedo disse...

Quanta bobagem. Era só o que faltava: um animal estupra uma estudante e a culpa é do capitalismo! Francamente. Vamos raciocionar. Se a 'desumanidade' desta besta humana é culpa da pobreza e da desigualdade social, então é preciso acabar com a pobreza. O que acaba com pobreza é prosperidade e o que leva à prosperidade é liberdade econômica, ou seja, capitalismo. A relação direta entre liberdade econômica e prosperidade é a coisa mais evidente do mundo. Se alguém tem dúvidas, basta conferir os primeiros e os últimos dez colocados da lista da Heritage Foundation e do Wall Street Journal, que publicam anualmente o Index of Economic Freedom. De um lado, Hong Kong, Singapura, Irlanda, Austrália, EUA, Nova Zelândia, Canadá, Chile, Suíça e Reino Unido. Na outra ponta, Coréia do Norte, Cuba, Zimbábue, Líbia, Burma, Turcomenistão, Irã, Belarus, Bangladesh e Venezuela. O Index é a publicação econômica mais importante do mundo, a única que permite, numa visão abrangente, avaliar sem muita dificuldade os méritos respectivos do capitalismo e do socialismo, não segundo os argumentos concebidos para justificá-los, mas segundo o seu desempenho real no esforço para dar uma vida melhor ao conjunto da população dos países ao seu alcance.
Em Cuba, as universitárias viraram prostitutas. Onde está o 'homem novo superior" do comunismo? Por outro lado, se a 'brutalização de seres humanos' é intrínseca à humanidade, melhor rogar a Deus que tenha piedade de todos nós. Em vez de explicações e lero-leros esquerdejosos delirantes, melhor chamar às falas os alunos da Ufba que usam drogas abertamente dentro do campus e estão atolados até o pescoço em responsabilidade e culpa pelo que aconteceu com a estudante de dança. O estuprador deve ser um dos tantos traficantes que frequentam a Ufba para atender à sua clientela.